sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

CARTA ABERTA A PASTORES E LÍDERES



CARTA ABERTA A MEUS IRMÃOS PASTORES

Caros colegas de chamado, sejam líderes, pastores, bispos, apóstolos. Aqui não importa qual a maneira que sua denominação ou comunidade define seu ministério.
O que me importa é que se você é líder de alguma expressão da Igreja Única, Verdadeira, Invisível e Indivisível de Jesus, O Cristo, é com você que eu desejo compartilhar esse texto.
Não importa quem eu sou, mas sim que, como um pastor da igreja de Jesus, pela Sua graça, oro para que essa minha mensagem seja bênção para sua vida.
Há algumas semanas venho lutando para “criar coragem” e compartilhar um entendimento que creio ser da parte de Deus para abençoar muitos irmãos, e contribuir com suas reflexões, ou até trazer respostas, dependendo do momento de cada um ao ler essa carta.
Vivemos dias em que cada vez mais é difícil estar na posição em que estamos, buscando em oração, sabedoria e revelação pelo Espírito Santo unção para pregar, para cuidar das ovelhas do Senhor Jesus “como quem vai prestar contas”, mesmo em meio a todos os conflitos de um mundo no qual parece que a cada dia ficamos mais “fora de lugar”.
Vivemos dias em que a perseguição “velada” ao evangelho começa a subir de tom aqui no ocidente, e muitas vezes precisamos até explicar um pouco a mais o que significa ser o que somos e fazer o que fazemos. Como que se precisássemos apresentar nossos extratos bancários e declaração de contadores para deixar claro que não estamos aqui para enriquecer às custas do evangelho, mas para servir. Pagando o preço do chamado.
Vivemos dias em que a perplexidade da alma transborda em nossos corações quando vemos supostos irmãos que dizem supostamente seguir o mesmo Jesus Cristo que seguimos, expondo publicamente uma vida que se já é difícil reconhecer como a de um cristão genuíno, muito mais o será como um líder na Sua Casa.
Vivemos dias em que somos confrontados pelo “evangelho de resultados”, medido pela arrecadação de dinheiro, pelo número de pessoas que fazem parte do rebanho ou pela influência traduzida pelo número de seguidores nas mídias sociais.
Vivemos dias em que parece que ter recursos para pagar uma viagem de avião, hospedagem e inscrição para determinados eventos, seminários, encontros, congressos ou semelhantes pode ser nossa única chance de receber a “última unção poderosa para esse tempo”, ou “a chave da colheita para os últimos dias”. E quem não tem os recursos, e não pode pagar para estar presente e receber algo supostamente da parte de Deus, mais claro ainda está que lhes falta a bênção, a unção, ou, para tantos, a manifestação do amor de Deus em suas vidas!
Mas também vivemos dias em que a vida de irmãos sinceros e poderosos, bem sucedidos em colheitas de almas, seus frutos para a eternidade e influência na sociedade nos confrontam também, mas de um jeito bom. Observamos como tal irmão é abençoado e útil a Deus e ao Reino se comparado com nossos resultados, e desejamos seguir essa inspiração.
E pagamos o preço, trabalhamos duro, oramos, jejuamos, cuidamos das pessoas, nos alegramos com as conversões, libertações e curas, e glorificamos a Deus por todas essas vitórias. Mas também sofremos com ingratidão e incompreensão, além do que erramos, pecamos, não conseguimos atender expectativas, falhamos. Passamos situações que a maioria não imagina. Sofremos a pressão da administração dos recursos da igreja, das contas, dos compromissos, e, claro, do sustento de nossas próprias casas.
Lutamos contra o pecado, contra a carne, contra os demônios, contra a política denominacional, contra lobos em pele de cordeiros. Joio em  meio ao trigo. Por isso tantos sofrem, sucumbem, desistem, e, tragédia das tragédias dos últimos dias, se suicidam!
Lutamos pelos nossos casamentos, filhos, líderes mais próximos. Pelos novos convertidos...
Só quem vive o que vivemos sabe o que se passa na mente nas madrugadas em que perdemos o sono, tentamos orar e vem a sensação que Deus não nos ouve, porque até parece estar distante de nós, abençoando os que merecem ser abençoados, e parece que não somos nós. Porque no fundo, sabemos mesmo que não merecemos. Só pela Sua Graça!
Diante desse cenário e sentimentos que, imagino, possam fazer parte de alguma maneira do que vai em seu coração, quero propor algumas considerações para sua avaliação.
Não sou o dono da verdade, mas sinto no meu espírito que esses questionamentos sinceros podem estar em muitos corações, e merecem respostas. Se não é seu caso, glória a Deus!
Não estou dizendo “assim diz o Senhor”, mas fazendo uso de minha capacidade de pensar, quero ter uma visão crítica do cenário que se apresenta, e fundamentar em princípios das Escrituras. Mas além disso, também tenho as minhas experiências no ministério pastoral, e na vida, herança espiritual de meus pais e antepassados cristãos, e assim creio poder contribuir para sua reflexão.
Penso que um grande risco que corremos é ter como parâmetro de nossa auto avaliação a observação para comparação com outros ministérios visíveis, prósperos e numerosos.
E pergunto: será que é isso mesmo que devemos fazer? Será que fomos todos chamados para viver as mesmas experiências, ter os mesmos resultados, alcançar o mesmo número de pessoas, da mesma maneira?
Meu querido, minha querida, como provavelmente você já ouviu, e até pregou, somos únicos!
Deus os chamou com suas características pessoais, dons, talentos, qualidades, recursos, instrução, condição social, família e tempo de convertido. E defeitos, limitações, problemas.
Creio que Deus lhes deu dons na mesma maneira que concedeu os talentos registrados na parábola de Jesus em Mateus 25:14-30 e na parábola das minas, em Lucas 19:11-27.
Ambas passagens são absolutamente semelhantes nos princípios do Reino dados por Jesus.
Fica claro que Ele concedeu recursos diferentes para cada um de nós, segundo a nossa capacidade. Não segundo o sistema de avaliação de capacitação do mundo, que é “do que se vê”, mas segundo a Sabedoria e propósito dEle, que leva em consideração os nossos corações!
Não se compare com ninguém segundo os valores do mundo, e muito menos segundo valores do “mundo gospel”, mas busque no seu interior quais são seus dons e talentos que o distinguem dos irmãos ao redor.
Esses são seus recursos ministeriais, tesouros do Pai depositados em você para a glória dEle.
Não, você não precisa necessariamente comprar os livros ou fazer o seminário internacional sobre “dez passos para sucesso ministerial”, ou “quinze níveis para crescimento da igreja”, ou qualquer outro  “coach” ou semelhante, que apresenta (vende?) estratégias de sucesso pelas quais irmãos nossos foram bem felizes no que conquistaram. Não!
Em muitos casos, a experiência deles será como uma armadura de Saul para você porque não é “seu número”. Não faz parte dos recursos que Deus tem preparado para seu chamado e ministério. Você não é o irmão ou irmã que viveu a experiência e escreveu o livro!
Você é único (a)!
Não adianta tentar copiar estratégias humanas de crescimento de igreja porque nem mesmo na Bíblia vamos encontrar algo assim. Veja que a maneira pela qual o Apóstolo Paulo  encorajava os irmãos da época, e portanto nos encoraja a fazer ainda hoje, é “sermos seus imitadores como ele foi imitador de Cristo!”
Nosso modelo é O Senhor Jesus!
Mas, claro, somos chamados a imitar a fé, a esperança, a oração, a vida espiritual de irmãos bem sucedidos na carreira, mas a estratégia de crescimento ou aparente sucesso ministerial é única. Pessoal. Associada à comunidade ou país em que viveram. Época em que viveram. Condição social ou espiritual da comunidade local.
Nada nos assegura que se reproduzirmos algumas dessas estratégias alcançaremos resultados duradouros e aqui, além disso, há um truque do maligno para tentar nos desanimar.
Se Deus chamou um irmão para uma grande colheita de almas, outro para um ministério marcante de oração para preparar o caminho das igrejas de seu país, outro para desenvolver uma adoração profunda que gere cânticos poderosos para abençoar irmãos até em outras nações, outro com ênfase em ensino, trazendo revelação profunda sobre temas bíblicos importantes para a vida cristã, outro com foco em missões, pergunto: como compararíamos uns com os outros?
Número de pessoas que fazem parte da igreja?
Quantidade de canções abençoadoras compostas?
Tempo total de oração dispendido?
Quantidade de livros e apostilas compartilhados?
Alcance missionário transcultural?
Veja que cada pastor dessas igrejas será considerado bem sucedido ou mal sucedido dependendo da maneira que for comparado com as demais, e do critério da comparação.
Ainda assim, se O Senhor chamou um irmão para colher cem mil almas e ele colheu “apenas” noventa e nove mil, enquanto chamou um irmão para colher cem almas e este colheu cento e vinte, pelo princípio da proporcionalidade espiritual do Reino que encontramos na parábola de Jesus, esse terá feito mais que o primeiro! Mas quem olha apenas números terá outra impressão...
E assim com as canções, com os livros, com as experiências de oração, missões.
Assim que meu ponto nessa carta aberta é propor a sua reflexão sobre qual a nossa referência para uma comparação. E ainda mais, considerar porque normalmente fazemos uma comparação com o que nos é desfavorável.
Pergunto então: Por que não sair dessa cilada do maligno e focar naquilo que Deus nos chama para fazer, baseado nos recursos e tesouros que Ele mesmo escondeu em nosso coração, para a glória dEle?
Cale a voz de satanás e ouça a voz do Senhor.
Você é uma pessoa única, com um chamado de Deus para um propósito único, que somente poderá ser alcançado se você lembrar quem você já era quando ouviu Seu chamado. E a partir de agora deixe O Senhor conduzir sua vida para que Ele opere a transformação necessária para que você seja quem foi chamado a ser.
Não se preocupe demais com o sucesso dos pastores midiáticos. Muitos deles são verdadeiras bênçãos, tanto quanto você pode ser, mesmo que esteja trabalhando quase que anonimamente em uma cidade perdida desse nosso país... Deus sabe quem você é, e sabe o que você está fazendo.
Outros deles podem ser aqueles que Deus já rejeitou “porque Ele não vê o exterior como o homem vê, mas conhece o coração”, mas permanecerão nesses lugares de destaque, porque quem os colocou ali não foi necessariamente o Senhor. Até que Ele mesmo os retire dali. Lembre-se de Saul... e o juízo começa pela Casa do Senhor!
Davi era o maior na casa de seu pai, embora fosse o menor. Apenas Deus sabia quem ele era. Até mesmo seu pai se esqueceu que ele existia, porque focava no primogênito, que não era o maior para Deus.
Não se deixe abater. Esqueça das “receitas de sucesso ministerial”. Foque na meditação na Palavra e na vida de oração! Cheio do Espírito Santo!
E, claro, não perca de vista os “Generais do Senhor”, homens e mulheres que Ele mesmo levantou para nossa inspiração. Como inspiração do que Deus pode fazer na vida de alguém.
Sua luta é contra você mesmo. Pela Palavra e pelo Espírito. Que Deus nos abençoe e fortaleça para esse tempo, essa geração dos últimos dias em que vivemos!
Cumpra a missão para a qual Deus lhe ungiu pelo Espírito Santo.
Para a Sua glória! Em Nome de Jesus.
Amém!
Haroldo Maranhão, Pastor

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