CARTA ABERTA A
MEUS IRMÃOS PASTORES
Caros colegas de chamado, sejam líderes, pastores, bispos,
apóstolos. Aqui não importa qual a maneira que sua denominação ou comunidade
define seu ministério.
O que me importa é que se você é líder de alguma expressão
da Igreja Única, Verdadeira, Invisível e Indivisível de Jesus, O Cristo, é com
você que eu desejo compartilhar esse texto.
Não importa quem eu sou, mas sim que, como um pastor da
igreja de Jesus, pela Sua graça, oro para que essa minha mensagem seja bênção
para sua vida.
Há algumas semanas venho lutando para “criar coragem” e
compartilhar um entendimento que creio ser da parte de Deus para abençoar
muitos irmãos, e contribuir com suas reflexões, ou até trazer respostas,
dependendo do momento de cada um ao ler essa carta.
Vivemos dias em que cada vez mais é difícil estar na posição
em que estamos, buscando em oração, sabedoria e revelação pelo Espírito Santo unção
para pregar, para cuidar das ovelhas do Senhor Jesus “como quem vai prestar
contas”, mesmo em meio a todos os conflitos de um mundo no qual parece que a cada
dia ficamos mais “fora de lugar”.
Vivemos dias em que a perseguição “velada” ao evangelho
começa a subir de tom aqui no ocidente, e muitas vezes precisamos até explicar
um pouco a mais o que significa ser o que somos e fazer o que fazemos. Como que
se precisássemos apresentar nossos extratos bancários e declaração de
contadores para deixar claro que não estamos aqui para enriquecer às custas do
evangelho, mas para servir. Pagando o preço do chamado.
Vivemos dias em que a perplexidade da alma transborda em
nossos corações quando vemos supostos irmãos que dizem supostamente seguir o
mesmo Jesus Cristo que seguimos, expondo publicamente uma vida que se já é
difícil reconhecer como a de um cristão genuíno, muito mais o será como um
líder na Sua Casa.
Vivemos dias em que somos confrontados pelo “evangelho de
resultados”, medido pela arrecadação de dinheiro, pelo número de pessoas que
fazem parte do rebanho ou pela influência traduzida pelo número de seguidores
nas mídias sociais.
Vivemos dias em que parece que ter recursos para pagar uma
viagem de avião, hospedagem e inscrição para determinados eventos, seminários,
encontros, congressos ou semelhantes pode ser nossa única chance de receber a “última
unção poderosa para esse tempo”, ou “a chave da colheita para os últimos dias”.
E quem não tem os recursos, e não pode pagar para estar presente e receber algo
supostamente da parte de Deus, mais claro ainda está que lhes falta a bênção, a
unção, ou, para tantos, a manifestação do amor de Deus em suas vidas!
Mas também vivemos dias em que a vida de irmãos sinceros e
poderosos, bem sucedidos em colheitas de almas, seus frutos para a eternidade e
influência na sociedade nos confrontam também, mas de um jeito bom. Observamos como
tal irmão é abençoado e útil a Deus e ao Reino se comparado com nossos
resultados, e desejamos seguir essa inspiração.
E pagamos o preço, trabalhamos duro, oramos, jejuamos,
cuidamos das pessoas, nos alegramos com as conversões, libertações e curas, e
glorificamos a Deus por todas essas vitórias. Mas também sofremos com
ingratidão e incompreensão, além do que erramos, pecamos, não conseguimos
atender expectativas, falhamos. Passamos situações que a maioria não imagina. Sofremos
a pressão da administração dos recursos da igreja, das contas, dos
compromissos, e, claro, do sustento de nossas próprias casas.
Lutamos contra o pecado, contra a carne, contra os demônios,
contra a política denominacional, contra lobos em pele de cordeiros. Joio
em meio ao trigo. Por isso tantos
sofrem, sucumbem, desistem, e, tragédia das tragédias dos últimos dias, se
suicidam!
Lutamos pelos nossos casamentos, filhos, líderes mais
próximos. Pelos novos convertidos...
Só quem vive o que vivemos sabe o que se passa na mente nas
madrugadas em que perdemos o sono, tentamos orar e vem a sensação que Deus não
nos ouve, porque até parece estar distante de nós, abençoando os que merecem
ser abençoados, e parece que não somos nós. Porque no fundo, sabemos mesmo que
não merecemos. Só pela Sua Graça!
Diante desse cenário e sentimentos que, imagino, possam fazer
parte de alguma maneira do que vai em seu coração, quero propor algumas
considerações para sua avaliação.
Não sou o dono da verdade, mas sinto no meu espírito que
esses questionamentos sinceros podem estar em muitos corações, e merecem
respostas. Se não é seu caso, glória a Deus!
Não estou dizendo “assim diz o Senhor”, mas fazendo uso de
minha capacidade de pensar, quero ter uma visão crítica do cenário que se
apresenta, e fundamentar em princípios das Escrituras. Mas além disso, também tenho
as minhas experiências no ministério pastoral, e na vida, herança espiritual de
meus pais e antepassados cristãos, e assim creio poder contribuir para sua
reflexão.
Penso que um grande risco que corremos é ter como parâmetro
de nossa auto avaliação a observação para comparação com outros ministérios
visíveis, prósperos e numerosos.
E pergunto: será que é isso mesmo que devemos fazer? Será
que fomos todos chamados para viver as mesmas experiências, ter os mesmos
resultados, alcançar o mesmo número de pessoas, da mesma maneira?
Meu querido, minha querida, como provavelmente você já ouviu,
e até pregou, somos únicos!
Deus os chamou com suas características pessoais, dons, talentos,
qualidades, recursos, instrução, condição social, família e tempo de
convertido. E defeitos, limitações, problemas.
Creio que Deus lhes deu dons na mesma maneira que concedeu os
talentos registrados na parábola de Jesus em Mateus 25:14-30 e na parábola das
minas, em Lucas 19:11-27.
Ambas passagens são absolutamente semelhantes nos princípios
do Reino dados por Jesus.
Fica claro que Ele concedeu recursos diferentes para cada um
de nós, segundo a nossa capacidade. Não segundo o sistema de avaliação de
capacitação do mundo, que é “do que se vê”, mas segundo a Sabedoria e propósito
dEle, que leva em consideração os nossos corações!
Não se compare com ninguém segundo os valores do mundo, e
muito menos segundo valores do “mundo gospel”, mas busque no seu interior quais
são seus dons e talentos que o distinguem dos irmãos ao redor.
Esses são seus recursos ministeriais, tesouros do Pai
depositados em você para a glória dEle.
Não, você não precisa necessariamente comprar os livros ou
fazer o seminário internacional sobre “dez passos para sucesso ministerial”, ou
“quinze níveis para crescimento da igreja”, ou qualquer outro “coach” ou semelhante, que apresenta (vende?) estratégias
de sucesso pelas quais irmãos nossos foram bem felizes no que conquistaram.
Não!
Em muitos casos, a experiência deles será como uma armadura
de Saul para você porque não é “seu número”. Não faz parte dos recursos que
Deus tem preparado para seu chamado e ministério. Você não é o irmão ou irmã que
viveu a experiência e escreveu o livro!
Você é único (a)!
Não adianta tentar copiar estratégias humanas de crescimento
de igreja porque nem mesmo na Bíblia vamos encontrar algo assim. Veja que a
maneira pela qual o Apóstolo Paulo encorajava
os irmãos da época, e portanto nos encoraja a fazer ainda hoje, é “sermos seus
imitadores como ele foi imitador de Cristo!”
Nosso modelo é O Senhor Jesus!
Mas, claro, somos chamados a imitar a fé, a esperança, a
oração, a vida espiritual de irmãos bem sucedidos na carreira, mas a estratégia
de crescimento ou aparente sucesso ministerial é única. Pessoal. Associada à
comunidade ou país em que viveram. Época em que viveram. Condição social ou
espiritual da comunidade local.
Nada nos assegura que se reproduzirmos algumas dessas estratégias
alcançaremos resultados duradouros e aqui, além disso, há um truque do maligno
para tentar nos desanimar.
Se Deus chamou um irmão para uma grande colheita de almas,
outro para um ministério marcante de oração para preparar o caminho das igrejas
de seu país, outro para desenvolver uma adoração profunda que gere cânticos poderosos
para abençoar irmãos até em outras nações, outro com ênfase em ensino, trazendo
revelação profunda sobre temas bíblicos importantes para a vida cristã, outro
com foco em missões, pergunto: como compararíamos uns com os outros?
Número de pessoas que fazem parte da igreja?
Quantidade de canções abençoadoras compostas?
Tempo total de oração dispendido?
Quantidade de livros e apostilas compartilhados?
Alcance missionário transcultural?
Veja que cada pastor dessas igrejas será considerado bem
sucedido ou mal sucedido dependendo da maneira que for comparado com as demais,
e do critério da comparação.
Ainda assim, se O Senhor chamou um irmão para colher cem mil
almas e ele colheu “apenas” noventa e nove mil, enquanto chamou um irmão para
colher cem almas e este colheu cento e vinte, pelo princípio da
proporcionalidade espiritual do Reino que encontramos na parábola de Jesus,
esse terá feito mais que o primeiro! Mas quem olha apenas números terá outra
impressão...
E assim com as canções, com os livros, com as experiências
de oração, missões.
Assim que meu ponto nessa carta aberta é propor a sua
reflexão sobre qual a nossa referência para uma comparação. E ainda mais,
considerar porque normalmente fazemos uma comparação com o que nos é
desfavorável.
Pergunto então: Por que não sair dessa cilada do maligno e
focar naquilo que Deus nos chama para fazer, baseado nos recursos e tesouros
que Ele mesmo escondeu em nosso coração, para a glória dEle?
Cale a voz de satanás e ouça a voz do Senhor.
Você é uma pessoa única, com um chamado de Deus para um
propósito único, que somente poderá ser alcançado se você lembrar quem você já
era quando ouviu Seu chamado. E a partir de agora deixe O Senhor conduzir sua
vida para que Ele opere a transformação necessária para que você seja quem foi
chamado a ser.
Não se preocupe demais com o sucesso dos pastores
midiáticos. Muitos deles são verdadeiras bênçãos, tanto quanto você pode ser, mesmo
que esteja trabalhando quase que anonimamente em uma cidade perdida desse nosso
país... Deus sabe quem você é, e sabe o que você está fazendo.
Outros deles podem ser aqueles que Deus já rejeitou “porque Ele
não vê o exterior como o homem vê, mas conhece o coração”, mas permanecerão
nesses lugares de destaque, porque quem os colocou ali não foi necessariamente
o Senhor. Até que Ele mesmo os retire dali. Lembre-se de Saul... e o juízo
começa pela Casa do Senhor!
Davi era o maior na casa de seu pai, embora fosse o menor. Apenas
Deus sabia quem ele era. Até mesmo seu pai se esqueceu que ele existia, porque
focava no primogênito, que não era o maior para Deus.
Não se deixe abater. Esqueça das “receitas de sucesso ministerial”.
Foque na meditação na Palavra e na vida de oração! Cheio do Espírito Santo!
E, claro, não perca de vista os “Generais do Senhor”, homens
e mulheres que Ele mesmo levantou para nossa inspiração. Como inspiração do que
Deus pode fazer na vida de alguém.
Sua luta é contra você mesmo. Pela Palavra e pelo Espírito.
Que Deus nos abençoe e fortaleça para esse tempo, essa geração dos últimos dias
em que vivemos!
Cumpra a missão para a qual Deus lhe ungiu pelo Espírito
Santo.
Para a Sua glória! Em Nome de Jesus.
Amém!
Haroldo Maranhão, Pastor